Ovos / galinhas criadas ao ar livre

Os ovos de galinhas criadas ao ar livre, evocam uma imagem positiva de frangos e perus vivendo ao ar livre, com abundância de ar fresco, sol e espaço aberto para passear.
A expressão “livre de gaiolas” transmite uma sensação semelhante de galinhas vivas e livres como a natureza. Mas qual será a verdade por trás do “ar livre” e “livres de gaiolas”, será uma questão de etiquetas?
Aves livres, criadas para consumo
As aves criadas para consumo podem ser vendida como “criadas ao ar livre”, se tiverem um acesso para o exterior. A porta pode ser aberta por apenas cinco minutos, e a quinta é qualificada como “ar livre”. Além de uma “porta aberta”, não existem outros critérios como a qualidade ambiental, o número de aves, ou o espaço por ave. Um funcionário do governo norte-americano ao visitar várias quintas que criam galinhas ao ar livre relatou que em alguns lugares visitados as galinhas estão em espaços de apenas um metro, com chão em cascalho e sem vegetação.
Um visitante da quinta, na Virgínia escreveu: “Eu andei na Polyface num dia escaldante. As galinhas estavam em gaiolas minúsculas, com telhados de lata ao sol. As gaiolas foram colocadas ao longo das pilhas de estrume das aves que deviam comer as larvas. Os coelhos foram mantidos em condições de criação intensiva, em gaiolas suspensas de arame estéril. Não havia nenhum sinal de liberdade e compaixão para esses animais.”
Os visitantes da quinta Springfield, em Sparks, Maryland, relataram: “Os perus “livres” que vimos foram colocados num campo ao frio, sem abrigo, excepto uma pequena estrutura de madeira coberta com capacidade para apenas metade dos animais, os outros ficavam ao frio.
Após 3 dias sem comida, os pássaros em Polyface são colocados de pernas para o ar, em cones de metal, onde aguardam uma a sua morte brutalmente dolorosa, enquanto vêem os outros ser mortos, com os pescoços cortados com uma faca.
As galinhas poedeiras livres
Às galinhas livres, tal como acontece na criação intensiva, os bicos são arrancados. Esta mutilação não permite que as galinhas se alimentem correctamente ou que tratem da higiene das suas penas, como deveria acontecer.
Por criação estão normalmente entre 2.000 a 20.000 galinhas, cada uma destas galinhas tem aproximadamente 30x21cm, num espaço com pouco ou quase nenhum acesso ao exterior, apenas as que se encontram junto à saída é que podem eventualmente sair, mas o espaço é muito pequeno e o exterior pode ser apenas um lugar pequeno e lamacento.
Galinhas criadas ao ar livre significa que enquanto as galinhas não são empurradas para gaiolas pequenas, galinhas livres de gaiolas, significa que os animais normalmente estão confinados a locais escuros, em edifícios superlotados, o ar intoxicado com gases tóxicos e micróbios, tal como acontece com as galinhas de bateria. E, assim como suas irmãs de bateria em gaiolas, perdem dolorosamente o bico no incubatório. Enquanto que na natureza as galinhas gostam de escavar o chão, usando as garras e o bico, para procurar alimento, quando privadas deste hábito, elas podem bicar as outras galinhas que se encontram no mesmo espaço.
As galinhas podem ter uma vida saudável e activa, até aos 15 anos, mas as galinhas criadas para consumo humano, são abatidas muito jovens, com cerca de seis semanas. Elas são empilhadas em camiões de transporte, no qual durante a viagem, muitos dos animais morrem de sede ou fome, devido as condições a que são sujeitas.
Para aqueles que pensam que as galinhas livres são criadas com condições muito diferentes que as galinhas de bateria estão completamente errados. O transporte dos pintos é feito como se tratasse de bagagem, muitos dos animais morrem com medo, desidratação e fome, como afirma o proprietário da quinta Polyface, Joel Salatin, acerca dos animais livres “As pessoas têm uma alma, os animais não. Ao contrário de nós, os animais não são criados à imagem de Deus.”

Mutilação dos bicos

Selecção das galinhas macho/fêmea (os machos são deitados fora)

Quinta de galinhas livres

Matança envolvida em terror e sofrimento

Fonte: www.upc-online.org/freerange.html

 

 

 

13 comments

  1. Olá Beatriz,

    Parabéns pela chamada de atenção para a problemática da produção intensiva de comida e do sofrimento animal, dois assuntos que também me são caros. Algumas das imagens são de facto chocantes para quem não fazia ideia, por exemplo, da seleção de pintainhos machos à nascença, literalmente atirados para o lixo. São questões em que todos temos que refletir e discutir para que todos, em conjunto, possamos contribuir para as resolver da melhor forma possível.
    Não só compreendo como também acompanho as suas preocupações relativamente ao sofrimento dos animais e sinto-me também angustiado pela forma como continuamos a explorar e a matar aos poucos todos os demais seres vivos deste planeta sem qualquer respeito pelos seus direitos. Infelizmente, só nós humanos fazemos as leis e estas normalmente versam apenas sobre os nossos próprios direitos. Felizmente mudar isso depende apenas de nós.

    Não concordo, no entanto, inteiramente com algumas ideias explicitadas ou implícitas nos posts aqui publicados e deixo aqui a minha opinião. Peço que não o entendam como uma crítica pois respeito as convicções e posições alheias da mesma forma como exijo que respeitem as  minhas. Gostaria então de lembrar a todos que o veganismo também implica a morte e o sofrimento de seres vivos – as plantas. Julgo que existe, nesta matéria, alguma desconsideração geral das pessoas pelo sofrimento vegetal. Talvez porque as plantas, ao contrário dos animais, que nos são mais próximos no mapa das espécies, por exemplo, não reagem quando alguém as mutila. 
    Nesse sentido, não bastará substituir a exploração intensiva de animais pela exploração intensiva de vegetais, onde existem exatamente os mesmos tipos de problemas (genéticos, mutilações, etc). Que eu saiba, não há atualmente qualquer solução ou sequer perspetiva de nos podermos alimentar de matéria não orgânica, portanto, e em última análise, algum ser vivo teve que morrer antes de nós o consumirmos. Na minha opinião, a opção pelo veganismo não é a resposta adequada ao problema do sofrimento animal. O que podemos e devemos fazer é tentar garantir uma vida digna para os indivíduos de todas as espécies, incluindo aquelas que fazem regularmente parte da nossa alimentação. 
    No limite, cada um de nós terá que avaliar questões tão básicas como a vida, a morte, a felicidade e a liberdade, decidindo aquilo que é ou não aceitável para si. São questões difíceis onde não há respostas certas e haverá opiniões para todos os gostos. A dificuldade começa logo na definição destes conceitos. Por exemplo, um ovo representa vida ou não ? E se o ovo não for fecundado, não podendo portanto originar uma galinha ? E no caso dos vegetais, uma fruta é vida ou não ? Então e uma folha ? E se a folha tiver a capacidade de se regenerar numa nova planta ? Neste caso poderemos estar a comer seres ainda vivos. Não há soluções perfeitas nesta matéria…
    No seu estado natural, não domesticado, os animais circulavam livremente pela natureza. Não existiam barreiras físicas artificiais e seguramente ninguém ia dar de comer aos animais no meio da floresta para depois os caçar. Mesmo pressupondo as barreiras físicas artificiais atualmente existentes, é possível garantir uma vida digna aos animais (e plantas) e ao mesmo tempo manter o sistema alimentar produtivo. Há muitas vezes um medo irracional de que não se podem fazer alterações aos sistemas sob pena de tudo colapsar.

    Há que lutar, a meu ver, pela evolução dos sistemas de produção alimentar intensiva, tanto de animais como de plantas. A guerra começa na implementação de um sistema rigoroso que permita ao consumidor avaliar e distinguir verdadeiramente o trigo do joio. No caso particular da comercialização de ovos, o consumidor poderá então optar por pagar o preço de não consumir ovos de uma exploração que abate pintainhos ou mesmo galinhas. Não obstante, poderia também criar-se legislação que defenda os direitos dos demais seres vivos. Na minha opinião deveria ser genérica e não caso a caso, consoante a atividade económica – uma espécie de constituição dos seres vivos e não apenas do homem.
    Como a Beatriz muito bem refere, não há muita diferença entre uma galinha poedeira de bateria e uma biológica. Pelo menos não tanta como todos desejaríamos. Estava exatamente à procura da legislação aplicável à produção de ovos biológicos quando encontrei o seu site. Estava à procura da legislação porque tenho algum terreno e pensei em criar eu mesmo uma exploração de ovos e galinhas o mais verde e sustentável possível. Do que percebi, a lei é europeia e contempla apenas 4 níveis possíveis de qualidade de produção:0 – Biológico (a mais ecológica)
    1 – Ar livre 2 – No solo3 – Em gaiola (a menos ecológica)Sendo que alguns dos requisitos mínimos para produzir no nível mais ecológico são:- Manjedouras circulares com 4cm para cada galinha
    – Bebedouros circulares com 1cm para cada galinha- 1m2 de espaço de ninho comum para cada 120 galinhas – 15cm de poleiro para cada galinha e 30cm entre poleiros- Densidades interiores de 9 galinhas por m2 (33cm x 33cm por galinha)- Densidades exteriores de 1 galinha por cada 4 m2 de terreno- Galinhas sustentadas por ração biológica
    Fiquei realmente estupefacto com esta legislação. Não é possível uma galinha sustentar-se durante um ano inteiro em 2x2m de terreno. Pura e simplesmente morreria à fome se entregue aos seus próprios meios. Qualquer vegetação e criatura nesse espaço desapareceria seguramente em menos de uma semana. Ou seja, presume-se logo à partida que alguém irá lá despejar o “balde” da ração que, por sua vez, virá de alguma exploração intensiva de vegetais. Estamos tão habituados a estar no controlo das operações que já nem sequer concebemos a possibilidade de sistemas em que os animais possam viver sem o nosso suporte. As galinhas nunca precisaram de nós antes da pastorícia e continuam a não precisar de nós para viver. O que elas precisam, isso sim, é de uma área vegetal adequada e de dimensão suficiente – de preferência uma que nenhum homem estragou. Qualquer ração será seguramente bem vinda pelas galinhas mas o meu ponto não é esse.
    Para piorar as coisas, inverteram a numeração e colocaram o “melhor” no nível 0, como quem diz implicitamente, não pode haver melhor que esta modalidade. A não ser que tencionem atribuir valores negativos aos sistemas realmente sustentáveis e ecológicos… Enfim, é triste. Não admira que qualquer consumidor bem intencionado mas distraído (como eu) fique satisfeito ao pagar por uma embalagem de ovos rotulados como “Ar livre” julgando que as galinhas gozam de plena liberdade e qualidade de vida.
    Acredito que um dia chegará a tal constituição de todos os seres vivos, que impeça qualquer mutilação a qualquer ser vivo e atrocidades como as dos pintainhos machos aqui reportada pela Beatriz. Enquanto isso não acontece teremos que nos contentar com a alteração às normas de comercialização dos ovos de galinha. Deixo algumas sugestões que penso poderiam facilitar a escolha do consumidor: -3 Compaixão  (nível -2 + sem qualquer abate de galos ou galinhas)
    -2 Sustentável (nível -1 + ração biológica produzida na própria exploração)
    -1 Misericórdia (nível  0 + sem mutilações ou o abate de pintainhos ou juvenis)
    Com isso em funcionamento, na ótica do consumidor seria possível consumir ovos sem contribuir para o sofrimento animal. Ficou claro dos vários comentários no seu site que isso é uma questão importante para todos nós.

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  2. Boa noite,

    Estou a iniciar uma dieta vegetariana, mas não estava a pensar excluir os ovos. No entanto, desde que assisti ao documentário Cowspiracy a minha preocupação aumentou imenso como a forma como são tratados os animais. Assim sendo, queria saber se existem galinhas criadas apenas para produção de ovos e que não sejam abatidas para consumo humano (acredito que sei a resposta mas tinha de fazer a pergunta). Por outras palavras, queria saber se há forma de consumir ovos de galinha em que haja algum respeito por estas, ou se consumir ovos é apenas compactuar com parte de um processo que está errado. Muito obrigado!

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    1. Olá Gonçalo, parabéns pela iniciativa. Todos os ovos que são comercializados incluem galinhas e pintainhos mortos. Mesmo que adoptes uma galinha, quando ela deitar um ovo, se não for fecundado a galinha acabará por destruir o ovo e come-lo. Desta forma ela repõe os nutrientes que perdeu ao colocar o ovo.

      Mas começa por fases, daqui a uns tempos consumir ovos poderá deixar de fazer sentido (falo por experiência) =)

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  3. olá, não fazia ideia que isto era assim, eu tenho galinhas agora mas elas estão em muito boas condições comparando com estas, as minhas são galinhas literalmente ao ar livre e queria saber um preço justo para vender os ovos, elas comem sempre quase todos os dias restos dos cozinhados que a minha mãe e avó fazem, dou lhes uma quantidade muito reduzida de milho apenas e penso cada vez mais em ir reduzindo porque elas já nem tem muito interesse em comer o milho e por fim apanho muita erva todos os dias chamada ” curriola” talvez o nome seja um termo mais regional por isso podem não conhecer mas é uma erva muito própria de dar às galinhas e elas gostam muito, também quase todos os dias que vou tratar delas deixo-as sair uns bons minutos para um pasto que tenho lá, anteriormente tinha as galinhas à solta mas elas escondiam os ovos, agora tenho-as numa zona vedada mas com muito espaço, com terra em todo o chão, com os poleiros para dormirem abrigadas e os sitios para colocarem os ovos. Com este texto todo espero nao ter sido maçador e nao sei se vou obter resposta. cumprimentos

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    1. Olá José, acredito que trata as suas galinhas com muito amor. Infelizmente quando se trata de produção intensiva com fins comerciais o mesmo não acontece e é isso que pretendo alertar. Muitas vezes para se obter uma determinada certificação não existe muita distinção entre uma galinha de bateria ou uma galinha “criada ao ar livre”. Mantenha as suas galinhas felizes =) Até breve

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  4. Olá Beatriz,
    gostava de saber se o processo de produção de ovos biológicos se difere desta.
    Obrigado, Vasco

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    1. Olá Vasco. Infelizmente tudo o que implica exploração animal é feito da mesma forma. Podem alterar o tipo de ração e vedação, mas o principio é o mesmo. Os ovos biológicos são produzidos da mesma forma.

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  5. Olá Beatriz!
    Sou interessada por esta temática e tenho uma dúvida.
    Sabe alguma coisa sobre estes ovos http://www.ovoscac.com/produtos/matinados.php?m=1&p=1 e as condições em que são criadas as galinhas?

    Muito obrigada.

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    1. Olá Ana.
      O artigo descreve os métodos que são utilizados na criação das galinhas poedeiras. Estes métodos são pratica comum da indústria, que nunca irá publicar no seu site as condições nas quais os animais são criados.
      Os machos são descartados e triturados, já que não tem valor comercial.
      Quando as galinhas começam a produzir menos ovos, são mortas. A genética das galinhas está de tal forma alterada que elas põem cerca de 300 ovos por ano, quando uma galinha selvagem apenas poria entre 12 a 20 ovos por ano.
      Existem várias alternativas ao ovo, que podemos utilizar, reduzindo assim o sofrimento Animal.

      Até breve 🙂

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  6. Vim com a mesma questao: se eu criar minhas proprias gainhas para consumo apenas dos ovos, haveria algum problema?

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  7. e quem tem sua própria galinha, como em um sítio.. ou seja, consome os ovos que não vieram dessa linha de produção?

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    1. A decisão sobre o consumo de ovos deverá partir de cada um. Ao comprar ovos de um sítio, devemos ter em consideração o facto de as galinhas poderem ser mortas pela sua carne, assim que a sua “produção” de carne baixar.

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      1. não, veja… não falei comprar de um sítio, mas da pessoa ter sua própria galinha (que não galinha será abatida) criada livre.

        ex. eu moro em um sítio, como os ovos das minhas galinhas, mas ela ficará lá viva e só morrerá por causas naturais, não será abatida para consumo…

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